Entre os meses de maio, junho e julho, Campina Grande se veste de um colorido contagiante que enfeita os quatro cantos da cidade. Para onde quer que você vá, encontrará o barulho dos trios de forró, o arco íris das bandeiras e os aromas das comidas típicas.
Marcella Lima
O nome “O Maior São João do Mundo” não é dado à toa. Desde 1983 fazemos uma grande festa que não se restringe apenas ao Parque do Povo, mas se espalha pelos distritos de Galante, Catolé de Boa Vista e São José da Mata, pelas escolas, universidades e até no comércio local. Tudo em Campina respira São João. E essa tradição em fazer um evento tão bonito acaba encantando a todos.
Naína Carvalho e família
Só neste ano, 1,2 milhão de visitantes estiveram no Parque do Povo e Parque Evaldo Cruz em 19 dias.
Quem visita Campina durante O Maior São João do Mundo se apaixona pela cidade e quer voltar na edição seguinte. Em alguns casos, o sentimento evolui para o amor e não se tem mais vontade de ir embora, já caiu no feitiço da cidade Rainha da Borborema.
Vida de Viajante
Foi assim que ocorreu com a enfermeira Marcella Lima, de 26 anos. Ela contou que a mãe, Dona Weydna Lina, sempre foi uma cidadã do mundo, que ama viajar e conhecer novas culturas e lugares. Ao reatar o contato com uma prima, que morava em Campina Grande, elas vieram conhecer a cidade em 2014. “Na época, eu fui logo pesquisar sobre a cidade porque, pra ser sincera, eu não conhecia. A primeira coisa que apareceu foi O Maior São João do Mundo. E eu, que sempre fui apaixonada por São João desde criança, fiquei com o coração batendo mais forte. Sou de Picos, no Piauí, uma terra cheia de cultura, mas lá o São João era mais festa de família, de escola… nada que se compare ao que eu encontrei aqui”, falou.
A Rainha da Borborema logo encantou a piauiense. “A cidade era São João em cada cantinho. Eu nunca tinha visto nada igual”, disse. O clima, as bandeirinhas, o Parque do Povo chamaram muito a atenção da, então, visitante, mas foi na Pirâmide que ela encontrou uma quadrilha junina que fez o coração bater mais forte. “Eu nunca tinha visto nada igual. Foi lá que conheci a Moleka 100 Vergonha, que eu já segui desde o primeiro ano e que, hoje, tenho o orgulho de fazer parte. Eu fiquei tão encantada com o espetáculo Sol e Chuva que passei meses falando disso. Nunca tinha visto nada tão bonito na vida!”, afirmou Marcella.
Ao fim da viagem, Marcella e Weydna voltaram para casa encantadas, mas a jovem carregava uma bagagem ainda mais pesada, por estar cheia de saudade. No ano seguinte ela terminou o ensino médio decidida a tentar um curso na área de saúde, conversou com a mãe sobre prestar o vestibular para Campina Grande. “Combinamos que eu viria por tudo, mas, principalmente, porque meu coração já tinha se apegado”, falou.
Na cidade há 10 anos, ela comentou que a saudade do Piauí aperta, sobretudo quando reparam o sotaque misturado, meio do lugar de nascença, meio do lugar de coração, mas afirmou que Campina Grande se tornou um lar, onde ela cresceu, se formou, se tornou independente e hoje contribui como servidora. Aqui é a casa de Marcella e não tem como falar de uma sem citar a outra.
“O que mais gosto em Campina é esse jeitinho dela, uma cidade grande, mas que tem alma de interior. Aqui tudo é perto, tudo é mais tranquilo. É o lugar que me deu paz, me fez crescer, me fez forte. É onde o coração da gente encontra sossego, mas, principalmente, o clima de São João contínuo que a gente sente aqui”, concluiu.
A natureza das coisas
Às vezes o bordado do destino não é um caminho reto. Foi assim que teve início a história de Naína Carvalho, advogada de 34 anos, com Campina Grande. Natural de Lapão, na Bahia, ela cresceu ouvindo sobre o forte polo de ensino superior campinense e sabia de muitos conterrâneos dela que vieram estudar e acabaram fixando residência aqui. A baiana nos visitou em três ocasiões, antes de vir morar aqui de fato. “A primeira vez que viemos, minha tia Dilza e eu, foi no São João de 2006. Na época, ainda adolescente, ganhei a oportunidade de passar as férias escolares aqui, enquanto auxiliávamos na instalação do meu primo, recém-chegado na Serra da Borborema para iniciar a graduação. Inaugurou-se um “caminho de roçado”. Retornei em 2008 para tentar vestibular e em 2010, também para a festa de São João”, disse.
A primeira impressão já foi boa. Ela recordou o encantamento com o centro da cidade, onde o clima junino tomava conta de tudo. Do comércio vestido a caráter, com trios de forró tocando nas lojas durante o dia, até a festa pulsante que reunia Campina e região no Parque do Povo, à noite. Também mencionou a Feira Central e toda sua diversidade e o acolhimento que recebeu, fazendo-a se sentir em casa, além do amor que as pessoas exalavam por serem filhos desta terra. “Muito regionalismo e tradição, que expressavam o orgulho de ser da terra do Maior São João do Mundo”, continuou.
Naína disse que não houve apenas um motivo para ficar, mas sim um conjunto de fatores que catalisou a decisão de vir em definitivo. Ela tentou o vestibular em 2008, vindo com uma excursão de pessoas que também fariam a prova, mas foi para o Parque do Povo na noite anterior e não foi bem no exame. No ano seguinte, houve outra oportunidade, mas ela optou por permanecer em Salvador, onde já residia e tinha iniciado uma graduação. Foi em 2010 que, a convite de duas amigas, ela retornou para O Maior São João do Mundo e conheceu um grupo de estudantes da Bahia, do Cariri Paraibano e de Campina, entre os jovens estava o atual esposo dela, um campinense. “Fomos apresentados. Um dia depois ficamos e permanecemos até o final do São João daquele ano. O que era para ser uma viagem de quinze dias se transformou em um mês. Ao regressar para Salvador, fui com a promessa de que voltaria. Saí daqui namorando. Permanecemos à distância durante quase todo o segundo semestre daquele ano”, contou a advogada.
“Eu, que já estava ansiando por um novo contexto, pois a vida de estudante, numa metrópole como Salvador, não era nada fácil. Aproveitei a paixão como desculpa para também justificar a possibilidade de viver sob um custo de vida menor. Então, decidi transferir o curso e em dezembro de 2010 passei a residir aqui”.
Em 2025 faz 15 anos e seis meses que Naína mora na Paraíba. Quase metade da vida dela, como bem citou. Aqui ela teve sua formação profissional, construiu uma carreira e uma família, além de ter ganhado um sotaque que chamou de “miscigenado”, que é parte de quem ela é e que conta também a sua história. História essa, que não poderia ter sido contada sem Campina Grande. “Campina é uma cidade beneficiada de muitas formas e todas contribuem para que seja atrativa. Sem perder os ares interioranos, onde as pessoas se conhecem e se referenciam, nos possibilita parte da experiência de uma cidade de porte maior (sem a atmosfera caótica de trânsito). Estrutura, clima agradável, custo e, sobretudo, qualidade de vida. Outro ponto alto, costumo dizer da localização geográfica. Em curtas distâncias, alcançamos quase todas as capitais do Nordeste, o que é, para uma eterna estudante como sou, o ponto fora da curva. E a reunião das mais diversas pessoas e culturas, contribuindo para uma atmosfera sócio-cultural diversificada, pujante e rica. O São João é só a publicização dessas características tão marcantes. Cultura, Diversidade, Grandeza que só Campina tem”, declarou.
Seja você campinense de berço ou de coração, uma coisa é certa: Campina encanta e não há quem venha a esta terra sem ser tocado pela beleza e magia do período junino. É como diz o poeta: Grande festa nordestina. Forró a cada segundo. Nós fazemos em Campina, O Maior São João do Mundo.
Texto: Gabryele Martins/ Arte Produções