De acordo com o presidente do CRM-PB, quase 60% dos partos realizados na Paraíba acontecem em Campina Grande ou em João Pessoa. Essa constatação foi feita por meio de um levantamento realizado pelo Conselho Regional Medicina e revelou um problema gravíssimo: a superlotação nas maternidades de Campina e da capital do Estado. Ele não se surpreende, por exemplo, pelos eventuais problemas no atendimento gerados por essa explosão de demandas.– O ISEA presta um grande serviço ao Município de Campina Grande e a outros 160 municípios. No entanto, por conta da elevada demanda, acaba sobrecarregado – destaca o presidente do CRM, lamentando que alguns atendimentos básicos como um simples corrimento genital, cólicas ou exame de pré-natal sejam drenados por outras cidades para o instituto.
Esse tipo de situação, alerta o presidente Roberto Magliano, termina por desvirtuar o principal papel da equipe do ISEA, que é de prestar atendimento de alta complexidade para casos extremos no momento especial do parto, principalmente envolvendo riscos de morte para as mães ou os bebês. “Os municípios não estão fazendo o seu dever de casa. Não oferecem à sua população assistência pré-natal e assistência ao parto. Drenam suas pacientes para o ISEA de Campina Grande, que presta grande serviço, mas acaba sobrecarregado. Extrapola-se de 10 a 30 vezes a capacidade de atendimento naquela unidade hospitalar”, revelou o presidente do CRM.
Roberto Magliano acha esse tipo de vazio assistencial regional inaceitável. Ele defende que o Ministério Público passe a exigir das prefeituras que cumpram o pactuado com o governo federal. Para o médico, o Ministério Público deveria exigir dos municípios polarizados por Campina Grande o que foi pactuado (a chamada pactuação de serviços), pois recebem recursos e se comprometem, por exemplo, em certos casos, a fazer dois mil partos por ano, porém tais municípios só fazem, em média, cerca de cem partos anuais, transferindo esta responsabilidade da maioria dos partos para Campina Grande, sobrecarregando o ISEA.
Problema nacional – Para Roberto Magliano, isso mostra a completa desorganização dos serviços de saúde no Brasil, particularmente no que diz respeito ao Sistema Único de Saúde (SUS), que atende a maioria da população. Explicou que cerca de 75% da população brasileira é atendida pelo SUS. A quantidade de dinheiro investida no SUS é igual ao que a saúde suplementar investe para atender apenas 25% da população. Por isso, constata-se que o SUS é subfinanciado, ou seja, não se investe o que se deveria investir na população.
Na Paraíba, conforme constatou o CRM, este modelo nacional se reproduz de maneira ainda mais perversa. O ideal seria que a Paraíba contasse com uma rede de atendimento e de assistência obstétrica com mais capilaridade. Com isso, os grandes municípios do Estado poderiam atender de maneira digna a sua população. Mas, infelizmente, mesmo com a municipalização ou gestão plena da saúde, o que acontece é uma sobrecarga para município como Campina Grande.